De Meninas Finas e de Bons Traços

Conversar com uma amiga a respeito de jovens meninas e suas concepções de beleza me fez pensar que a história do ideal de magreza pode ter lá suas origens na história da literatura.

Olhem só:

Há muito tempo atrás, lá pelos idos do século dezessete, o ideal de beleza era o macio. As mulheres mais redondas, rechonchudas eram o glorioso estandarte do imaginário masculino. As mulheres abastadas que podiam pagar um bom alimento e o estilo de vida sedentário da aristocracia lhes permitia acumular as curvas e as dobras abundantes, muito bem representadas nas pinturas de Rubens.

À vista do século dezenove, mais ou menos coincidindo com a revolução industrial e ascensão definitiva da classe média, o homem sustentar uma mulher que não tinha a capacidade física para o trabalho era moda, costume e até uma obrigação. Era um símbolo de status para o homem, um sinal de riqueza e pompa, sua esposa ser fina, frágil e gorda mas ainda capaz de oscilar pesadamente pela casa. Uma figura decadente e alienada em sue próprio microverso.

Se a evolução seguisse seu curso, hoje teríamos um tipo de mulher robusta, relativamente saudável, forte e apta a conceber, gerar, amamentar e constituir assim, uma descendência múltipla.

Mas seria uma evolução justa?

Seria justo então, para uma mulher, ser limitada a capacidade de dar a luz, passar meses se recuperando para parir de novo e então engordar no processo?

Foi então, em meio a essa questão boba, que me veio à mente ‘Jane Eyre’ e as personagens da srta. Brontë .

A heroína da srta. Brontë é pequena e insignificante em comparação a Blanche e Maria (outras personagens, outras histórias, mesmo sentido), ambas esguias e altas.

Segundo a minha amiga, quando leu ‘Jane Eyre’ – ela tinha 12 ou 13 anos e estava, segundo ela, completamente mergulhada no ideal de magreza – Ela pensou: “Isso é ridículo, é claro que ele vai escolher Jane, ela é menor!” e é até isso que acontece… mas depois de uma boa dose de drama, desencontros e blá blá blá.

Meu ponto é: a narrativa central retrata a emancipação da mulher e de seu espírito. É como uma resposta às personagens submissas de Jane Austen que, segundo a srta. Brontë , eram mulheres ridículas, inaptas ao trabalho e cuja única função era a de reprodução. ‘Jane Eyre’ mostra um tipo de mulher que é perfeitamente capaz de trabalhar e ter uma vida independente de um homem para sustentá-la. Uma mulher que é… magra.

O livro foi um sucesso entre as senhorinhas vitorianas.

O que só vem mostrar a você que a srta. Brontë tem lá sua parcela de culpa na criação do ideal de magreza.

Pensando nos dias de hoje, ainda são as combinações de razões históricas e de classe que ditam o tal ideal: as mulheres de mais posses – independente de serem ricas – são quem podem pagar por lazer e exercícios. Só elas podem ser verdadeiramente magras. As mulheres da srta. Brontë indiretamente, criaram a regra de que ‘fina’ significa ser rica, magra e jovem. Não há nada a ver com fertilidade, tampouco a ver com ‘revoluções evolucionárias’. Tem a ver com concepção manca de estética e preferência da evolução do estado social.

Acho que da próxima vez que encontrar uma mulher que esteja preocupada com sua gordura corporal, vou chamá-la e lhe lembrar de que ‘peso’ não é símbolo de status, tampouco beleza. E que a melhor maneira dela ser bonita é apenas ser auto-confiante.

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5 Respostas to “De Meninas Finas e de Bons Traços”

  1. Bem argumentado… Gostei!

  2. Rianne Says:

    Concordo com o escrito, mas eh mto complicado não ser atingida
    por essa tal influência..
    mas o importante mesmo eh cuidar do interior,
    o exterior eh consequencia !!!

    =)

  3. suyá Says:

    A auto-suficiência realmente é a melhor expressão da gente, e de vcs homens também. muito bom =]

  4. Cristina Says:

    Gostei muito do texto.
    Fazia tempos que não passava por aqui.
    Quando que vais publicar um livro com suas Crônicas? Publicam tanta coisa sem sentido ultimamente. Ter bons textos para ler, seria muito interessante…
    ps Já comprou o ingresso pro show de 09.04.2011? Comprarei o meu no sábado…

  5. Marvin Says:

    adorei o texto,na verdade,me deixou refletindo astante sobre a questão.

    esperando mais textos seus don rodrigo 🙂

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